sexta-feira, 18 de maio de 2012

Como não funciona o Código da Vinci.

"O Código da Vinci" é um tremendo best-seller, com mais de 40 milhões de exemplares vendidos, em pelo menos, 44 línguas. Sucesso de público, o livro também é campeão de protestos e polêmicas, porque apesar de ser uma obra de ficção, é apresentado como baseado em fatos reais.
Não é nenhum segredo que o pessoal do HowStuffWorks desmonta qualquer coisa para ver como funciona. E parte da equipe também fica apontando falhas de filmes e programas de TV quando o assunto é ciência ou tecnologia (quem está do lado não gosta nada...). Com "O Código da Vinci" não poderia ser diferente - houve uma verdadeira caça aos erros do texto.
Neste artigo, você vai saber o que aconteceu quando demos uma olhada mais detalhada e mais de perto em "O Código da Vinci" e em como ele usa a ciência, a tecnologia, a arte e a história.


Problema no Louvre
"O Código da Vinci" começa com um crime no museu do Louvre, em Paris. No comando de alguém conhecido como "O Professor," um homem chamado Silas assassina o curador Jacques Sauniandegraveère. Depois de reverem a prova, investigadores franceses convocam o simbologista Robert Langdon, da Harvard, para interrogatório.
O capitão Bezu Fache, da Direction Centrale Police Judiciaire (DCPJ), tem certeza de que Langdon é o assassino. Fache faz com que um de seus tenentes plante um ponto GPS no bolso de Langdon. É um "botão metálico em forma de disco, mais ou menos do tamanho de uma bateria de relógio". Este ponto, de acordo com a criptógrafa Sophie Neveu, tem margem de erro de 60 cm e permite que a DCPJ rastreie a localização de Langdon, não importa onde esteja. Em outras palavras:
  • é pequeno
  • é preciso
  • funciona em ambientes fechados 


Entretanto, os verdadeiros sistemas de posicionamento global (GPS) podem ser pequenos, mas são geralmente maiores que uma bateria de relógio. A unidade descrita no livro também teria que ter encaixado uma fonte de energia e um segundo rádio transmissor em sua pequena concha para se comunicar com os computadores da polícia. Têm margem de erro de 4 a 100 m. Não funcionam bem em ambientes fechados, sob cobertura de árvores densas ou em áreas urbanas com prédios altos.
Um receptor GPS usa a posição de três ou mais satélites para determinar a
localização de uma pessoa e não um, como no romance
Um receptor GPS usa ondas de rádio para comunicar com satélites que estão a 17.710 km acima da superfície da Terra. O receptor tem que ter uma linha de visão ininterrupta para esses satélites, algo que não acontece nos ambientes fechados. Mesmo a tecnologia GPS militar não consegue fixar-se em um soldado que esteja sob uma densa cobertura de árvores ou escondido. Verifique Como funcionam os receptores de GPS para saber mais. O importuno ponto GPS continua causando problemas à medida que a história acontece. Sophie conta a Langdon que se ele jogar o ponto fora, os oficiais da DCPJ vão ver que o ponto não está se movendo e saber que Langdon os descobriu. Ela então surge com um plano engenhoso: embute o receptor em uma barra de sabão, quebra a janela de um banheiro e atira o sabão sobre o teto de um caminhão que está passando.

Os oficiais correm para apreender o caminhão, acreditando que Langdon esteja no teto. Isso dá a ele e a Sophie algum tempo. Infelizmente os banheiros do Louvre só têm sabão líquido, como a maioria dos outros banheiros públicos. De acordo com um guia turístico de "O Código da Vinci", os banheiros naquela parte do Louvre não têm janelas. Em vez de escapar nesta nova oportunidade, Sophie e Langdon seguem uma outra pista até a Salle des Etats. A Salle des Etats, também conhecida como a Salle de la Jocond, é o lar da Mona Lisa. Em pouco tempo, a DCPJ os apreende lá.

Em um outro arroubo de rápidos pensamentos, Sophie remove da parede oposta à Mona Lisa a "A Virgem das Rochas", de Leonardo Da Vinci, chamada de "Madonna das Rochas", no romance. Ela usa a pintura como escudo e ameaça destruí-la pressionando os joelhos contra a tela. Naturalmente, o oficial apreensor permite que ela escape para evitar que aquela obra de arte fosse destruída.
Alguns críticos têm observado que a cena na Salle des Etats é impossível porque Leonardo pintou a "A Virgem das Rochas" em madeira, não em tela. Contudo, o restaurador de arte Hacquin transferiu a pintura para tela em 1806. A cena também é impossível por outras razões.

  • "A Virgem das Rochas" está pendurada na Grand Gallery, não na Salle des Etats. A pintura diretamente à frente da Mona Lisa é "Bodas de Canaã", de Caliari. A pintura é enorme, com quase 10 m de largura. Para sermos justos, não encontramos uma fonte que dissesse qual pintura ficava de frente para a Mona Lisa antes do fechamento da Salle des Etats, em 2001. Todavia, em várias fotografias mais antigas, os reflexos sobre o vidro de proteção da Mona Lisa indicam que não era a "A Virgem das Rochas".
  • Mesmo se "A Virgem das Rochas" realmente ficasse pendurada na frente da "Mona Lisa", ela tem 2 m de altura. Alta demais para que Sofia pudesse enxergar por cima dela conforme foi descrito. A moldura ornamental de madeira da pintura também é pesada demais para que uma pessoa comum a levante sem ajuda.
  • O fato de Sophie remover a pintura da parede não ativa nenhum sistema de segurança. Isso contradiz o início do livro, em que Sauniandegraveère remove uma pintura da parede para ativar o sistema de segurança que veda um corredor inteiro. Isso também contradiz o verdadeiro sistema de segurança do Louvre, que inclui detecção por proximidade e movimento. Para que fique registrado, esse sistema usa câmeras reais de segurança, que monitoram o quadro de funcionários 24 h por dia. 
  Quanto mais longe a história fica do Louvre, mais ela começa a focar em eventos do passado distante e na interpretação artística, em vez de detalhes que possam ser verificados. Contudo, ele realmente comete outros erros concretos, incluindo a descrição de pessoas com albinismo. Um dos vilões de "O Código da Vinci" é um homem chamado Silas, que é albino. Ele tem pele e cabelos brancos, olhos cor de rosa com pupilas vermelhas. Silas é bom em manejar pistolas e dirige um carro à noite, perseguindo heróis.
O albinismo é uma condição médica real em que o corpo de uma pessoa não consegue produzir uma quantidade apropriada do pigmento melanina. A maioria das pessoas com albinismo têm pele e cabelos muito pálidos e olhos ligeiramente coloridos. Alguns têm olhos cor-de-rosa, mas a maioria tem olhos azuis-claros.
O albinismo não permite que a retina e os nervos oculares da pessoa formem-se corretamente. Por essa razão, os médicos fazem exames dos olhos para diagnosticar pessoas com a doença. A maioria das pessoas com albinismo não enxerga bem porque suas retinas não funcionam adequadamente. Embora poucas sejam cegas, muitas não enxergam bem o suficiente para dirigir um carro ou, conforme foi visto em "O Código da Vinci", para atirar em pessoas à distância. Em outras palavras, é extremamente improvável que Silas pudesse desempenhar as tarefas descritas no livro. Você pode aprender mais sobre o albinismo na Organização Nacional de Albinismo e Hipopigmentação.

Outros erros não são tão complexos quanto os descritos acima:
  • quando estavam indo do Ritz de Paris para o Louvre, Langdon e um agente da DCPJ passam pela Ópera e cruzam a Place Vendôme. Contudo, o Ritz de Paris fica na Place Vendôme. Para passar pela Ópera, o oficial teria que ir quase na direção oposta a do Louvre;
  • Langdon diz que Sauniandegraveère, uma devota do antigo "feminino sagrado," estava interessada nas relíquias Wicca. Contudo, a Wicca é uma religião moderna;
  • a entrada da pirâmide do Louvre contém 793 painéis de vidro, não 666;
  • o baralho de tarô contém 78 cartas, não 22. Embora tenha 22 cartas arcanas principais. Consulte Como funcionam as cartas de tarô para saber mais;
  • o primeiro dos Pergaminhos do Mar Morto foi descoberto em 1947, não nos anos cinqüenta;
  • o romance implica a existência de um curador para o Louvre. Na verdade, ele tem um quadro de funcionários de 60 curadores em oito departamentos. A "Mona Lisa" tem seu próprio curador;
  • a Harvard não tem um professor de "simbologia". E simbologia não é uma disciplina acadêmica verdadeira;
  • não há detectores de metal na Abadia de Westminster e as pessoas não podem fazer decalques de carvão das placas naquele lugar. 
"O Código da Vinci" faz muitas afirmações sobre a arte e a Bíblia Cristã. De todas as afirmações no livro, estas podem ser as mais difíceis de provar ou quantificar. Embora algumas pessoas passem sua vida inteira estudando e interpretando a arte ou as escrituras religiosas, ambos os campos são imprecisos por natureza. Pode ser impossível determinar a intenção verdadeira de um artista em um quadro ou obra literária específicos ou o exato significado por trás de uma passagem religiosa.
De acordo com o romance, Leonardo Da Vinci colocou símbolos e códigos escondidos em suas pinturas. Por exemplo, o livro faz várias asserções sobre a "Mona Lisa", incluindo:

  • Leonardo carregou a pintura com ele e recusou-se a se desfazer dela;
  • a pintura é uma "colagem bem documentada de duplos sentidos e divertidas alusões";
  • a irregularidade, no fundo, torna a pintura mais majestosa da esquerda para a direita, o que é um atestado do amor de Leonardo pelo feminino;
  • a pintura representa uma pessoa andrógena ou um auto-retrato do artista;
  • Leonardo deu à pintura nomes de divindades egípcias - Amon, deus da fertilidade e Isis, deusa da fertilidade. 
 
Quais desses pontos são verdade? Aqui está o que encontramos:
  • Leonardo realmente manteve a pintura em vez de dá-la à pessoa que a havia encomendado;
  • muitos estudiosos da arte têm proposto teorias sobre a pintura e quem ela representa. Todavia, todas elas são teorias: Leonardo não deixou para trás uma análise passo a passo de suas intenções por detrás da pintura;
  • Alguns pesquisadores têm apontado similaridades entre a "Mona Lisa" e o auto-retrato de Leonardo. Contudo, a teoria amplamente aceita é a de que a pintura retrata Lisa Gherardini, a esposa de Francesco del Giocondo. Essa é a razão pela qual a pintura é conhecida como "La Joconde", na França e "La Gioconda", na Itália;
  • Embora você possa misturar "Amon" e "Isis'" e obter "Mona Lisa", há uma explicação muito mais simples. "Mona" é um pronome de tratamento que significa "minha senhora" em italiano e a mulher que posou para o retrato chamava-se Lisa. 
"O Código da Vinci" também propõe teorias sobre a pintura da "Última Ceia" de Leonardo. De acordo com o livro, ela mostra Maria Madalena à mão direita de Jesus, assim como uma mão desencarnada segurando uma faca. A explicação de Langdon para a razão pela qual as pessoas não notam os significados ocultos na pintura envolve "escotoma" o conhecimento do bloqueio cerebral associado a símbolos poderosos. Contudo, "escotoma" é um termo médico que simplesmente significa "ponto cego". Um escotoma origina-se de uma disfunção neurológica ou ocular - não de uma exposição a um símbolo poderoso.
A figura à direita de Jesus realmente tem uma aparência feminina, mas a maioria dos estudiosos concordam que ela é o apóstolo João, que tem uma aparência jovem e delicada na arte-final do período. Um exame cuidadoso da pintura também revela que a mão "desencarnada" realmente pertence a Pedro, embora ele esteja segurando a faca de uma maneira meio estranha.
O romance também faz numerosas asserções sobre a história e outras obras de arte. Aqui está uma relação de alguns dos pontos freqüentemente contestados.

  • o Papa Alexandre não fez um elogio no funeral de Isaac Newton, embora o Papa realmente tivesse escrito um poema sobre Newton;
  • O Evangelho segundo Felipe foi provavelmente escrito em grego, não em aramaico, embora o único manuscrito que tenha sobrevivido tenha sido escrito em cóptico;
  • aproximadamente 50 mil pessoas, homens e mulheres, morreram durante os anos de caça às bruxas, não 5 milhões.
  • o Priorato de Sion é uma organização fictícia fundada e divulgada por Pierre Plantard em 1956;
  • o Rei Filipe de França realmente prendeu e torturou membros dos Cavaleiros Templários em uma sexta-feira 13, de 1306. Contudo, há muitas outras razões por trás da superstição de algumas pessoas a respeito da sexta-feira 13. Veja Como funciona a sexta-feira 13 para maiores detalhes;
  • os registros sobre a história de "A Virgem das Rochas", de Leonardo, diferem. Todavia, parece que foi dinheiro, não desprazer em relação ao simbolismo da pintura, o que causou a controvérsia que levou a duas versões da pintura;
  • nada na Bíblia ou em qualquer outro documento existente prova que Jesus foi casado com Maria Madalena. Ao mesmo tempo, nenhum documento existente prova que ele não foi. 
Finalmente, a maioria das teorias em "O Código da Vinci" sobre o relacionamento de Jesus com Maria Madalena, se eles tiveram um filho, o "significado real" do Santo Graal e a história da Igreja Católica vêm de uma fonte. Essa fonte é "O Santo Graal e a Linhagem Sagrada", de Michael Baigent e outros. Esse livro é comercializado como uma obra de não-ficção. Contudo, muitos críticos têm levantado sérias questões sobre sua precisão.









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