domingo, 3 de junho de 2012

BIOGRAFIAS: Federico Fellini

De cartunista a um dos mais importantes diretores da história do cinema. Em duas décadas, Federico Fellini não só mudou sua trajetória de vida como também a da sétima arte. Um dos fundadores do movimento neorealista no cinema, Fellini desenvolveu um estilo próprio baseado em narrativas autobiográficas que inseriram sonhos, delírios e personagens bizarros em situações da vida cotidiana.

Os melhores filmes dirigidos por Fellini também foram escritos por ele. Neles, realidade, aspectos autobiográficos e fantasias formam um mundo de simbolismos que têm encantado o público do mundo inteiro há décadas. Ao romper com as formas tradicionais de se produzir uma obra cinematográfica, ele transformou seus problemas pessoais e sua criatividade em um material artístico que já virou lenda entre os apreciadores do cinema. O diretor que ganhou oito Oscars, além de dezenas de prêmios nos principais festivais internacionais de cinema, sempre tem suas obras em qualquer lista dos melhores filmes de todos os tempos.

Fellini  Federico Fellini nasceu em 20 de janeiro de 1920 em Rimini, na Itália. Após passar uma infância tranquila, ele mudou-se com a família para Roma. Sua habilidade como cartunista, desenvolvida enquanto não tinha muitas coisas para fazer em sua adolescência provinciana, rendeu um emprego na revista “Marc’ Aurelio”. Durante a Segunda Guerra Mundial, Fellini foi roteirista do programa de rádio “Cico e Pallina”. Foi nesse trabalho que ele conheceu a atriz Giulietta Masina, que se tornaria sua esposa e a estrela em vários de seus futuros filmes.

A primeira grande oportunidade para Fellini no cinema surgiu em 1944, quando ele conheceu o diretor Roberto Rossellini e entrou para a equipe de roteiristas que criaram “Roma, Cidade Aberta”, marco do movimento neorealista italiano. O roteiro do filme acabou indicado ao Oscar e Fellini tornou-se um dos mais requisitados roteiristas na Itália. Além de colaborar com roteiros brilhantes para outros filmes de Rossellini, ele também escreveu para os diretores Pietro Germi, Alberto Lattuada  e Luigi Comencini.

Fellini estreou como diretor em parceria com Alberto Lattuada com o filme “Mulheres e Luzes” (“Luci del Varietá”), em 1951. Lançado no mesmo ano, “Abismo de Um Sonho” (“Lo Sceicco Branco”) foi o primeiro filme que dirigiu sozinho. Logo nesses trabalhos iniciais, Fellini mostrou sua tendência a fazer uma abordagem da vida cotidiana, com um certo sarcasmo que atingiria o ápice com a obra-prima “Os Boas Vidas”, de 1953.

Com o sucesso comercial e a excelente acolhida da crítica para “Os Boas Vidas”, Fellini estabelecia-se como um dos mais importantes diretores cinematográficos do pós-Guerra e seguiu com uma produção que renderia várias outras obras-primas.

Em 1954, “A Estrada da Vida” ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. O quarto filme dirigido exclusivamente por Fellini o projetou internacionalmente. Ambientado no circo, uma arte que seria explorada insistentemente pelo diretor em sua filmografia, o filme conta a trágica história de amor e ciúme entre Zampano, um homem-músculo interpretado por Anthony Quinn, e Gelsomina, sua assistente que atua como palhaça, interpretada por Giulietta Masina.

Fellini  A esposa de Fellini seria, junto com os roteiros desenvolvidos por ele, um dos destaques das obras-primas feitas pelo diretor. Em “Noites de Cabíria” (1957), ela faz uma prostituta ingênua, que se revela uma mulher forte, corajosa e obstinada em busca dos seus sonhos de uma vida melhor. Otimismo e tristeza se misturam nesse filme comovente que mais uma vez ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, além de dar a Giulietta o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.

Fellini  Em 1960, Fellini mostrou sua visão sobre a “cultura das celebridades” com “A Doce Vida”. Em seu primeiro trabalho com o diretor, o ator Marcelo Mastroianni interpretou um jornalista barato, um parasita que circula ao redor dos “famosos”, mas que já foi um escritor sério. Ele é apenas um dos decadentes da vida moderna que o filme retrata. “A Doce Vida” traz uma das cenas mais famosas da história do cinema, quando Sylvia, a personagem interpretada por Anita Ekberg, entra na Fontana di Trevi. O filme originou também o termo “paparazzi”, por conta do personagem Paparazzo, um dos fotojornalistas que circundam avidamente as celebridades.

Pôster do filme Oito e Meio de Federico Fellini  Em 1963, mais uma obra de Fellini venceria o Oscar de melhor filme estrangeiro. “Oito e Meio” fica no limiar entre sonho e realidade. Marcelo Mastroianni interpreta um diretor de cinema (alter-ego de Fellini) que enfrenta uma crise de criatividade. Considerado um dos melhores filmes de todos os tempos pela crítica, “Oito e Meio” é uma profunda reflexão sobre o ato criativo e mostra a angústia do ser humano ao ter de enfrentar medos e relacionamentos essenciais.

Outra obra-prima da filmografia de Fellini é “Amarcord”, lançada em 1973. Também vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, o filme narra as memórias da adolescência do diretor na época do fascismo. Em contraposição a “Oito e Meio” que mostra o lado mais sombrio de Fellini, em “Amacord” há uma visão alegre, despojada e lírica numa obra que vai do cômico ao melancólico.

Fellini  Seus últimos filmes, produzidos nas décadas de 70 e 80, trataram de temas caros à sociedade moderna, como o papel do homem num mundo cada vez mais feminista, o crescimento e a homogeneização da cultura popular e a natureza da criação artística, e refletiram a evolução de sua maturidade artística. Federico Fellini morreu em 31 de outubro de 1993.
 

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