De cartunista a um dos mais importantes
diretores
da história do cinema. Em duas décadas, Federico Fellini não só mudou
sua trajetória de vida como também a da sétima arte. Um dos fundadores
do movimento neorealista no cinema, Fellini desenvolveu um estilo
próprio baseado em narrativas autobiográficas que inseriram sonhos,
delírios e personagens bizarros em situações da vida cotidiana.
Os
melhores filmes dirigidos por Fellini também foram escritos por ele.
Neles, realidade, aspectos autobiográficos e fantasias formam um mundo
de simbolismos que têm encantado o público do mundo inteiro há décadas.
Ao romper com as formas tradicionais de se produzir uma obra
cinematográfica, ele transformou seus problemas pessoais e sua
criatividade em um material artístico que já virou lenda entre os
apreciadores do cinema. O diretor que ganhou oito
Oscars, além de dezenas de prêmios nos principais festivais internacionais de cinema, sempre tem suas obras em qualquer lista dos
melhores filmes de todos os tempos.

Federico Fellini nasceu em 20 de janeiro de 1920 em Rimini, na Itália.
Após passar uma infância tranquila, ele mudou-se com a família para
Roma. Sua habilidade como cartunista, desenvolvida enquanto não tinha
muitas coisas para fazer em sua adolescência provinciana, rendeu um
emprego na revista “Marc’ Aurelio”. Durante a Segunda Guerra Mundial,
Fellini foi
roteirista
do programa de rádio “Cico e Pallina”. Foi nesse trabalho que ele
conheceu a atriz Giulietta Masina, que se tornaria sua esposa e a
estrela em vários de seus futuros filmes.
A primeira grande
oportunidade para Fellini no cinema surgiu em 1944, quando ele conheceu o
diretor Roberto Rossellini e entrou para a equipe de roteiristas que
criaram “Roma, Cidade Aberta”, marco do movimento neorealista italiano. O
roteiro do filme acabou indicado ao Oscar e Fellini tornou-se um dos
mais requisitados roteiristas na Itália. Além de colaborar com roteiros
brilhantes para outros filmes de Rossellini, ele também escreveu para os
diretores Pietro Germi, Alberto Lattuada e Luigi Comencini.
Fellini estreou como diretor em parceria com Alberto Lattuada com o
filme “Mulheres e Luzes” (“Luci del Varietá”), em 1951. Lançado no mesmo
ano, “Abismo de Um Sonho” (“Lo Sceicco Branco”) foi o primeiro filme
que dirigiu sozinho. Logo nesses trabalhos iniciais, Fellini mostrou sua
tendência a fazer uma abordagem da vida cotidiana, com um certo
sarcasmo que atingiria o ápice com a obra-prima “Os Boas Vidas”, de
1953.
Com o sucesso comercial e a excelente acolhida da crítica
para “Os Boas Vidas”, Fellini estabelecia-se como um dos mais
importantes diretores cinematográficos do pós-Guerra e seguiu com uma
produção que renderia várias outras obras-primas.
Em 1954, “A Estrada da Vida” ganhou o
Oscar
de melhor filme estrangeiro. O quarto filme dirigido exclusivamente por
Fellini o projetou internacionalmente. Ambientado no circo, uma arte
que seria explorada insistentemente pelo diretor em sua filmografia, o
filme conta a trágica história de amor e ciúme entre Zampano, um
homem-músculo interpretado por Anthony Quinn, e Gelsomina, sua
assistente que atua como palhaça, interpretada por Giulietta Masina.

A esposa de Fellini seria, junto com os
roteiros
desenvolvidos por ele, um dos destaques das obras-primas feitas pelo
diretor. Em “Noites de Cabíria” (1957), ela faz uma prostituta ingênua,
que se revela uma mulher forte, corajosa e obstinada em busca dos seus
sonhos de uma vida melhor. Otimismo e tristeza se misturam nesse filme
comovente que mais uma vez ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro,
além de dar a Giulietta o prêmio de melhor atriz no
Festival de Cannes.

Em 1960, Fellini mostrou sua visão sobre a “cultura das celebridades”
com “A Doce Vida”. Em seu primeiro trabalho com o diretor, o ator
Marcelo Mastroianni interpretou um jornalista barato, um parasita que
circula ao redor dos “famosos”, mas que já foi um escritor sério. Ele é
apenas um dos decadentes da vida moderna que o filme retrata. “A Doce
Vida” traz uma das cenas mais famosas da história do cinema, quando
Sylvia, a personagem interpretada por Anita Ekberg, entra na Fontana di
Trevi. O filme originou também o termo “
paparazzi”, por conta do personagem Paparazzo, um dos fotojornalistas que circundam avidamente as celebridades.

Em 1963, mais uma obra de Fellini venceria o Oscar de melhor filme
estrangeiro. “Oito e Meio” fica no limiar entre sonho e realidade.
Marcelo Mastroianni interpreta um
diretor de cinema (alter-ego de Fellini) que enfrenta uma crise de criatividade. Considerado um dos
melhores filmes de todos os tempos
pela crítica, “Oito e Meio” é uma profunda reflexão sobre o ato
criativo e mostra a angústia do ser humano ao ter de enfrentar medos e
relacionamentos essenciais.
Outra obra-prima da filmografia de
Fellini é “Amarcord”, lançada em 1973. Também vencedor do Oscar de
melhor filme estrangeiro, o filme narra as memórias da adolescência do
diretor na época do
fascismo.
Em contraposição a “Oito e Meio” que mostra o lado mais sombrio de
Fellini, em “Amacord” há uma visão alegre, despojada e lírica numa obra
que vai do cômico ao melancólico.

Seus últimos filmes, produzidos nas décadas de 70 e 80, trataram de
temas caros à sociedade moderna, como o papel do homem num mundo cada
vez mais feminista, o crescimento e a homogeneização da cultura popular e
a natureza da criação artística, e refletiram a evolução de sua
maturidade artística. Federico Fellini morreu em 31 de outubro de 1993.
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