Charlie Chaplin criou o mais famoso e cativante personagem da história
do cinema. Sua contribuição para a sétima arte inclui também trabalhos
como
produtor,
roteirista e
diretor cinematográfico.
Se não bastasse, ele ainda foi um dos fundadores da United Artists, a
primeira companhia independente de produção e distribuição de filmes em
Hollywood. Mas, de todas as suas contribuições, é a invenção e a interpretação do simpático pequeno vagabundo
Carlitos,
com seu chapéu velho, bengala de bambu e calças largas surradas, que
fez de Chaplin uma das grandes personalidades da história do cinema.

Nas primeiras décadas do século 20, quando o cinema ainda era mudo, os
filmes de Chaplin eram certeza de diversão e muitas gargalhadas. Um
século depois, Carlitos, o alter-ego criado por ele, continua a encantar
as pessoas e, graças principalmente às suas performances no papel do
pequeno vagabundo, Chaplin foi eleito no final do século 20 o melhor
ator de todos os tempos, por críticos de cinema do mundo todo.
A
trajetória artística desse comediante britânico começou cedo ao ter de
inesperadamente substituir sua mãe, a cantora Hannah Hall, no meio de
uma apresentação quando ela perdeu a voz. Chaplin tinha então cinco anos
de idade. Essa precocidade iria se confirmar nos anos seguintes. Numa
trajetória marcada por pobreza e dificuldades, o talento de Chaplin se
sobressaiu e chamou a atenção do recém-nascido mundo cinematográfico.

Charles Spencer Chaplin Jr. nasceu em Londres em 16 de abril de 1889.
Seus pais eram artistas e separaram-se logo após o seu nascimento.
Chaplin viveu seus primeiros anos na companhia da mãe e de seu
meio-irmão Sydney. Mas a instabilidade mental de sua mãe a levou a
perder o emprego e mais tarde a ser internada em um asilo. Nessa fase,
Chaplin e o irmão acabaram passando algum tempo em escolas para crianças
desamparadas, como que numa versão real dos contos de Charles Dickens. O período de convivência com a mãe ensinou Chaplin a gostar do ramo de
entretenimento. Aos oito anos de idade ele já fazia sua estreia como
profissional ao se juntar à Eight Lancashire Lads, uma companhia de
sapateado. Usando os contatos da mãe no mundo artístico, aos dez anos
ele deixou a escola e passou a trabalhar como mímico e ajudante em
vários grupos britânicos.
Foi provavelmente nesse período, de dificuldades e pobreza, que ele
buscou elementos para desenvolver as características e o visual de
Carlitos. Nessa fase, seu talento começou a se destacar. O trabalho na
trupe de mímicos de Fred Karno, com a interpretação de um personagem
simplesmente conhecido como “o bêbado”, na peça “A Night in an English
Music Hall”, durante uma excursão nos Estados Unidos, chamou a atenção
de um produtor cinematográfico. Com a ida de Chaplin para o cinema começou a nascer um dos mais importantes personagens da sétima arte.
Em 1913, Charlie Chaplin assinou seu primeiro contrato no cinema com o
Estúdio Keystone. Contratado para atuar nas comédias dirigidas por Mack
Sennet, fundador do estúdio, Chaplin fez sua primeira aparição nas telas
no filme “Making a Living”, lançado em 1914, com um personagem que não
lhe permitiu mostrar todo seu talento.

Na produção seguinte, “Kid Auto Races at Venice”, Sennet dá a liberdade a
Chaplin para que ele improvise e desenvolva as características do
personagem. Ele então constrói uma espécie de alter-ego, com um visual
que se tornaria imortal, com seus sapatos gastos e frouxos, casaco
demasiado apertado, calças folgadas e um chapéu fora de moda. Nascia um
simpático andarilho pobretão que se tornaria um dos maiores sucessos da
história do cinema. O personagem criado por Chaplin, no entanto, nem sempre atuou como um
desocupado. Ele assumiu o papel de garçom, balconista, bombeiro. Mas em
qualquer situação, ele sempre era essencialmente um perdedor e um
sobrevivente. Sem sorte no amor, metido a ser especialista em tudo e
rejeitado pela sociedade, Carlitos conquistava a audiência com seu
descaramento, seu improvável heroísmo, seu desprezo pela ostentação e
sua perseverança frente às adversidades.

Ao enfrentar um mundo que lhe é sempre hostil, Carlitos mostra-se mais
divertido ainda quando está amedrontado, em seus esforços para tentar
pacificar as situações ou ajudar pessoas que se sentem mais fracas ou
amedrontadas do que ele próprio. Muitos biógrafos acreditam que essas
características encontradas em Carlitos têm suas raízes na infância
pobre e difícil de Chaplin. Apesar de atuar em 35 comédias
produzidas pelo Estúdio Keystone, entre 1914 e 1915, o desenvolvimento
completo de Carlitos só aconteceu quando Chaplin tornou-se também o
diretor dos filmes. Após deixar o Keystone, em busca de ganhar mais
dinheiro, Chaplin dirigiu e atuou em filmes que consagraram o
personagem, como “O Vagabundo” (1915), “O Bombeiro” (1916) e “O Garoto”
(1921), entre outros. Carlitos tornou Chaplin quase que imediatamente
uma estrela internacional.
Em 1919, Chaplin juntou-se aos atores
Mary Pickford e Douglas Fairbanks e ao diretor D. W. Griffith para
fundar a United Artists, o primeiro estúdio e distribuidora de filmes
constituída por artistas e que de forma independente propunha fazer
frente aos grandes estúdios de Hollywood. Apesar de seu enorme sucesso como ator, diretor e produtor, Chaplin
ficou bem preocupado e resistiu ao advento dos filmes sonoros. Somente
uma década após a inovação, ele faria seus primeiros filmes no novo
formato. Entre eles, clássicos como “Tempos Modernos” (1936) e “O Grande
Ditador” (1940), ambos produzidos pela United Artists.

Fora das telas Chaplin teve uma vida conturbada nos relacionamentos
amorosos e também em suas atividades políticas. Seus dois primeiros
casamentos foram com adolescentes e terminaram em divórcio. Suas
simpatias pelos movimentos de esquerda o fizeram ser alvo do
macarthismo
e quando viajou para Londres em 1952 para lançar o filme “Limelight”
não pôde mais retornar aos Estados Unidos em função de não ter seu visto
renovado.
Chaplin passou então a viver na Suíça e somente
voltaria aos Estados Unidos em 1972 para receber um prêmio especial da
Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood durante a
cerimônia do
Oscar,
quando foi aclamado e ovacionado durante 12 minutos. Em 1975 ele recebeu
o título de cavaleiro da rainha Elizabeth 2.ª, da Inglaterra.
Sir
Charles Spencer Chaplin Jr. estava casado com Oona O’Neill, filha do
dramaturgo norte-americano Eugene O’Neill, desde 1943, e com ela teve
oito filhos. Junto da família, em seu exílio na Suiça, Chaplin morreu na
noite de Natal de 1977, aos 88 anos de idade.
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