sábado, 25 de agosto de 2012

Os segredos proibidos da Mulher Maravilha.

Há certos segredos que os nerds deste mundo guardam a sete chaves. Eles são sete vezes mais poderosos que os segredos de uma pessoa comum. Alguns eruditos argumentam que este é o preço de ser um nerd. Stuffo tropeçou em dois destes segredos enquanto procurava a sua caneta favorita na gaveta de cima. Um deles era o prato predileto do Super-Homem: "papinha de cenoura" da Gerber. O outro era a origem da Mulher Maravilha.

Gibi  A Warner Brothers anunciou recentemente que Joss Whedon (criador das séries Buffy e Angel) escreverá e dirigirá uma adaptação cinematográfica da história da Mulher Maravilha. Se você ler a ficha do filme no site IMDB (site em inglês), verá que ao lado do nome de Wheldon há o de um outro escritor: William M. Marston. Ele criou a Mulher Maravilha em 1941, mas também era advogado, psicólogo, consultor pedagógico e inventor. Entre outras coisas, ele pode invocar um papel importante na invenção do polígrafo (detector de mentiras) e do teste de pressão arterial sistólica.

A especialidade de Marston na área da psicologia era a teoria do gênero e alguns dos seus pontos de vista seriam tão radicais hoje quanto eram na década de 40. Dependendo do enfoque, você poderá considerá-lo um excêntrico ou um protótipo de feminista. A revista da Mulher Maravilha (site em inglês) coloca isso da seguinte forma:
"Durante a sua vida, Marston defendeu as causas das mulheres de sua época".

Antes de criar a Mulher Maravilha, William Marston trabalhou como pesquisador e psicólogo consultor. Ele escreveu extensivamente sobre aquilo que entendia ser a diferença psicológica entre os sexos. Marston acreditava que as mulheres eram por natureza mais honestas, generosas e confiáveis que os homens. Alguns de seus trabalhos concentravam-se na influência da dominação e submissão nos estados emocionais, incluindo um estudo dos rituais de iniciação nas fraternidades. Muitas destas idéias foram encontradas nos desenhos animados da Mulher Maravilha de uma ou de outra forma. Falaremos mais sobre isso depois. Marston inventou o DISC test (teste de personalidade), que ainda hoje é usado por psicólogos e orientadores para medir os níveis de estresse e de compatibilidade social. Há controvérsias sobre a função que Marston desempenhou na invenção do polígrafo e do teste de pressão arterial sistólica. De acordo com biografias, ele foi o pioneiro da idéia básica do polígrafo que é testar se as pessoas falam a verdade prendendo-as numa máquina de medir pressão, enquanto respondem a uma série de perguntas. Ele nunca aperfeiçoou a invenção, mas foi o responsável por aplicar o conceito em campo.

Ele criou a personagem da Mulher Maravilha durante o período em que esteve no conselho consultivo editorial da Detective Comics Inc. (hoje em dia DC Comics) e da All American Comics. O editor-chefe procurou Marston com o objetivo de inventar uma nova personagem feminina no mesmo estilo de Batman, Super-Homem e outros super-heróis da época. Em resposta, ele escreveu uma história chamada "Suprema, a Mulher Maravilha" o que originou a nova personagem (menos o nome Suprema) na All Star Comics, Sensation Comics e Detective Comics. Ela ganhou a sua própria revista em quadrinhos no verão de 1942, que foi transferida exclusivamente para a DC Comics em 1944. Marston escreveu todas as histórias da Mulher Maravilha até a sua morte em 1947. 

A Mulher Maravilha de Marston é uma princesa amazona que cresceu numa ilha, chamada Ilha Paraíso ou Themyscira. Ela recebeu o título de Mulher Maravilha quando ganhou um torneio e foi declarada a mais habilidosa e inteligente de sua tribo. Quando um piloto da Força Aérea chamado Steve Trevor faz um pouso de emergência em Themyscira, a tribo manda a Mulher Maravilha tratar suas feridas e acompanhá-lo de volta ao "mundo dos homens" (para fora da ilha) como embaixadora. De volta ao mundo dos homens, ela assume a identidade de Princesa Diana para ocultar a sua verdadeira origem. A Mulher Maravilha incorporou a visão que Marston tinha das mulheres: inteligentes, honestas e gentis. Ela possuía grande força de persuasão. Como amazona, tinha habilidade em combates corpo-a-corpo. Ao contrário dos outros super-heróis, a sua missão não era só acabar com o crime, mas também reformar os criminosos e torná-los cidadãos de bem.

 
Abaixo está uma lista dos seus poderes especiais e armas:
  • laço da verdade - quando está com o seu laço, os criminosos não têm outra opção senão dizer a verdade. O laço é inquebrável, mas pode ser esticado infinitamente. Foi feito pelo ferreiro do deus grego Hefesto a partir do cinturão da deusa Afrodite;
  • braceletes mágicos - na história, todas as amazonas usam braceletes especiais à prova de balas que na mitologia grega são o símbolo da sujeição temporária a Hércules. Quando as amazonas perdem os seus braceletes, elas enlouquecem de raiva. E se por acaso algum vilão fundir os braceletes, ficará enfraquecido se usá-los, assim como a criptonita faz com o Super-Homem;
  • avião invisível - o avião invisível não teve sua origem explicada antes da morte de Marston. Há várias explicações conflitantes que surgiram nas revistas em quadrinhos no decorrer dos anos. Tanto pode ser uma encarnação de Pégaso, o unicórnio voador, quanto uma substância transmutadora, que ela chama de "Domo". Com o avanço da tecnologia no mundo real, o avião invisível se transforma em jato invisível. 
Os outros dois personagens mantidos até hoje na série da Mulher Maravilha, desde 1941, foram Steve Trevor e Etta Candy, sua colega de fraternidade. Etta tinha propensão a usar exageradamente o clichê "woo woo". Ela era a melhor amiga da heroína e lhe servia para muitas finalidades; acidentalmente, atraía a heroína para uma confusão numa semana e dava uma mão a ela numa missão difícil na semana seguinte. 

O cunho das pesquisas e da vida pessoal de Marston está inserido em todas as histórias da Mulher Maravilha que ele escreveu. Mais óbvio ainda é a adaptação que o inventor do teste poligráfico fez ao equipar a sua super-heroína com um laço da verdade.

  Várias fontes apontam que em quase todas as histórias da Mulher Maravilha escritas por Marston pode ser encontrado um painel completo da personagem numa situação de escravidão. Durante a carreira de Marston, muitas capas mostravam homens segurando a Mulher Maravilha com correntes, algemas ou cordas. As situações envolvendo Etta Candy e suas colegas da fraternidade, "Holliday Girls", foram comparadas aos escritos e pesquisas de Marston sobre os rituais obscuros nas fraternidades. Há especulações de que a aparência física da Mulher Maravilha tenha sido inspirada na assistente de pesquisas de Marston, Olive "Dotsie" Richard. Marston teve dois filhos com a sua mulher Elizabeth e outros dois com Olive Richard e todos os sete (quatro crianças, duas mães e um pai) viviam juntos, como uma grande família.

William Marston faleceu em 1947. Ele deixou um contrato que concedia à DC Comics o direito de publicar com exclusividade as histórias da Mulher Maravilha pelo tempo de existência da personagem. Caso algum dia eles parassem com a publicação, a posse seria permanentemente revertida para os bens de Marston. Isto fez com que a Mulher Maravilha tivesse uma das mais longas vidas dos super-heróis das histórias em quadrinhos. Os escritores Robert Kanigher e Denny O'Neil assumiram a responsabilidade de escrever as histórias após a morte de Marston. Com os novos escritores, no final da década de 40 e início de 50, a Mulher Maravilha passou por muitas mudanças: seu feminismo foi reduzido, sua origem foi revisitada e aprofundada e ela recebeu alguns novos brinquedos. Eis alguns dos destaques:
  • novo interesse amoroso: subitamente ela se apaixona por Steve Trevor. Isto abre caminho para futuras histórias da super-heroína que finalmente também cai de amores pelo Homem-Pássaro, Aquático e possivelmente o Super-Homem, depende de para quem você perguntar;
  • novas armas e habilidades: transforma a sua tiara em um bumerangue mágico e seus brincos lhe permitem respirar em ambientes sem oxigênio, como o espaço. Seus braceletes formam um elo de comunicação com Themyscira;
  • origens: o escritor Robert Kanigher pega uma página do livro do Super-Homem e cria as histórias da Moça Maravilha e Bebê Maravilha para mostrar como era a Mulher Maravilha em diferentes épocas na história. Uma história chamada "Contos Impossíveis" mostra o que aconteceria se as quatro Maravilhas: Mulher, Bebê, Moça e Rainha (a sua mãe), existissem no mesmo lugar e época. Esta façanha acontece quando um novo escritor, Bob Haney, as interpreta como personagens completamente separadas. Haney comete erros na continuidade da história e faz com que a Mulher Maravilha seja a sua própria amiga, na qualidade de Moça Maravilha. Ele continua escrevendo sobre a Moça Maravilha na revista em quadrinhos "Teens Titans" que inclui os novos super-heróis Batman e Robin. Estes problemas de continuidade não seriam esclarecidos antes do esforço de arrumação da DC Comics, conhecido como "Crise nas Terras do Infinito". 
  No decorrer dos anos 60, a popularidade dos super-heróis de quadrinhos estava em decadência. A DC resolveu revigorar a Mulher Maravilha e investir na explosão da mania de agentes secretos, caracterizados pelos programas da televisão britânica tais como Os Vingadores e "The Prisoner". A Mulher Maravilha foi drasticamente reformulada. Eis como chegamos lá: as outras amazonas são enviadas para uma dimensão paralela para receber o amuleto (ou seja, suas forças) de volta. Ao invés de deixar o "mundo dos homens", a Mulher Maravilha escolhe ficar sem os seus poderes e torna-se proprietária de uma butique de roupas modernas. A sua tiara e traje patriótico e super-heróico nas cores vermelho, branco e azul são substituídos por macacões e minissaias da década de 60. Ela é iniciada nas artes marciais por um misterioso sujeito asiático de nome I Ching e as suas missões são secretas e políticas. Neste período, Steve Trevor é assassinado pela primeira vez. Esta é uma Mulher Maravilha muito diferente. Esta versão durou apenas alguns anos. Um dos eventos que fez a Mulher Maravilha voltar para suas origens foi a matéria publicada sobre o assunto pela feminista Gloria Steinem no Ms. Magazine (site em inglês). Mas a Mulher Maravilha dos anos 60 deixou uma influência duradoura nas histórias em quadrinhos do futuro e adaptações televisivas.

  Ao longo dos anos 70 e início dos 80, as histórias em quadrinhos da Mulher Maravilha sofreram os mesmos problemas que as outras histórias da época. Havia um número crescente de "universos paralelos" que foram criados para amenizar os erros de continuidade, tais como histórias conflitantes e falsas origens. Sempre que um escritor queria mudar o passado de uma personagem ou ignorar parte de sua história, ele iria fazê-lo e em seguida explicar que as próximas dez edições se passavam na "Terra-3" ao invés de na Terra normal. As raízes desta prática podem ser vistas nos primeiros "Contos Impossíveis", em que Bebê Maravilha, Mulher Maravilha e Moça Maravilha existiram na mesma história. Foi um recurso útil até as tramas e histórias dos personagens se tornarem tão fragmentadas e confusas que ninguém mais podia se lembrar da verdade. Por fim, a DC percebeu isso e criou a série "Crise nas Infinitas Terras", em que eles aniquilaram todos os mundos paralelos e seus personagens, deixando só um e reescreveram uma versão padrão da história de cada personagem que não podia mais ser alterada. Como parte dessa arrumação, a Mulher Maravilha foi morta para ser trazida depois em uma nova série.

Assim como os outros personagens da DC, a história da Mulher Maravilha foi reescrita após "A Crise". O escritor George Perez inventou a nova série dando ênfase à mitologia grega e aos conflitos entre os deuses. A nova Mulher Maravilha veio ao mundo dos homens falando somente grego antigo, sem conhecer a civilização atual. Embora parecida fisicamente, a nova Etta Candy não fazia mais parte da fraternidade; no mundo pós-crise ela era uma oficial militar. Steve Trevor era bem mais velho que nas histórias antigas. Sendo assim, ele agora se interessava pela Etta ao invés da Mulher Maravilha. Eis a origem da versão atual da Mulher Maravilha que está no site da DC Comics. Eles usaram o resumo da história original de William Marston e a transformaram em algo um pouco diferente:

Ela é o espírito reencarnado de uma criança humana que morreu no ventre de sua mãe cerca de 30 mil anos atrás e foi trazida à vida por várias deusas gregas com a finalidade de combater as conspirações de Ares, o deus da guerra... Essas deusas gregas, assim como Hermes, o deus mensageiro, puseram o espírito dentro de uma escultura de barro moldada por Hypólita, revivendo-a. Tendo recebido poderes especiais de cada uma das deusas do Olimpo, Diana entrou secretamente no torneio cujo objetivo era escolher a melhor amazona para confrontar o deus da guerra. Ela ganhou e, como campeã de Themyscira, derrotou Ares antes que ele causasse um holocausto nuclear.

Muitos dos fãs viram ou pelo menos ouviram falar no programa da Mulher Maravilha na TV dos anos 70 estrelado por Lynda Carter. Para muitos, Lynda Carter é a Mulher Maravilha. Mas esta não foi a primeira tentativa de trazer o personagem à tela da TV.
  • Em 1967, a Greenway Productions produziu um curto piloto do humorístico da Mulher Maravilha na mesma linha do filme de ação do Batman, estrelando Ellie Wood Walker como personagem título. Nunca foi a lugar nenhum.
  • Cathy Lee Crosby estrelou como Mulher Maravilha em um quase esquecido filme de 1974 feito para a TV. Apesar da revista em quadrinhos ter deslanchado, era apresentada uma Mulher Maravilha anos 60 em oposição à versão da super heroína corajosa que Lynda Carter popularizou alguns anos mais tarde.
  • O programa de TV da Mulher Maravilha de Lynda Carter foi exibido entre 1976 e 1979. Em sua primeira temporada, ele transcorria na mesma época em que se passava a história da primeira Mulher Maravilha, no início da década de 40, tendo a Segunda Guerra Mundial como tema principal. De certo modo, era fiel à história em quadrinhos, mas enfatizava mais as missões militares e menos os contos fantásticos e mitologia. Apesar de ter boa audiência foi cancelado após a primeira temporada e depois ressuscitado em outro canal, CBS ao invés da ABC. As novas aventuras da Mulher Maravilha, como foi denominado, era um programa de ação/aventura que se passava em tempo real, na época em que foi apresentado, nos anos 70.
  • Houve vários desenhos animados, desde uma participação em "The Brady Kids", em 1972, até curtas exibições em Super Amigos, nos anos 70 e 80 e a Liga da Justiça nos dias de hoje. 
  Qual é o futuro da Mulher Maravilha? Entrevistas recentes com Joss Wheldon, sugerem que ele não permanecerá fiel às antigas revistas em quadrinhos. Mesmo se quisesse, como fazê-lo, se até mesmo os escritores tiveram dificuldades em manter uma só origem consistente? Wheldon ainda não especulou nenhum nome para o papel principal. A atual liderança na sala de apostas da Stuffo cabe a Charisma Carpenter.







Um comentário:

  1. Uma biografia bem narrada da Mulher-Maravilha https://www.youtube.com/watch?v=R5GtRpZSeHE por Dani Marino e Ana Carolina Cunha

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